domingo, 22 de janeiro de 2017

FEBRE AMARELA - A VOLTA NO BRASIL



        O período de incubação no homem varia de 3 a 6 dias, podendo se estender até 15 dias. A viremia humana dura no máximo 7 dias e vai de 24-48 horas antes do aparecimento dos sintomas até 3 a 5 dias após o início da doença, e é durante esse período que o homem pode infectar os mosquitos transmissores. Nos casos que evoluem para a cura, a infecção confere imunidade duradoura.


       O quadro clínico típico caracteriza-se por manifestações de insuficiência hepática e renal, tendo em geral apresentação bifásica, com um período inicial prodrômico (infecção) e um toxêmico. O período prodrômico dura cerca de 3 dias, tem início súbito e sintomas inespecíficos como febre, calafrios, cefaleia (dor de cabeça), lombalgia, mialgias generalizadas, prostração, náuseas e vômitos. Após esse período geralmente ocorre declínio da temperatura e diminuição dos sintomas, provocando uma sensação de melhora no paciente. Dura poucas horas, no máximo um a dois dias. Por fim, inicia-se o período toxêmico , quando reaparece a febre, a diarreia e os vômitos têm aspecto de borra de café. Instala-se quadro de insuficiência hepatorrenal caracterizado por icterícia, oligúria, anúria e albuminúria, acompanhado de manifestações hemorrágicas: gengivorragia, epistaxe, otorragia, hematêmese, melena, hematúria, sangramentos em locais de punção venosa e prostração intensa, além de comprometimento do sensório, com obnubilação mental e torpor, com evolução para coma e morte. O pulso torna-se mais lento, apesar da temperatura elevada. Essa dissociação pulso-temperatura é conhecida como sinal de Faget.

Tratamento

        O tratamento é apenas sintomático, com cuidadosa assistência ao paciente que, sob hospitalização, deve permanecer em repouso, com reposição de líquidos e das perdas sanguíneas, quando indicado. Nas formas graves, o paciente deve ser atendido em Unidade de Terapia Intensiva, com vista a reduzir as complicações e o risco de óbito. Salicilatos devem ser evitados (AAS e Aspirina), já que seu uso pode favorecer o aparecimento de manifestações hemorrágicas. O médico deve estar alerta para quaisquer indicações de um agravamento do quadro clínico.


      A febre amarela apresenta dois ciclos de transmissão epidemiologicamente distintos: silvestre e urbano.

      Do ponto de vista etiológico, clínico, imunológico e fisiopatológico, a doença é a mesma nos dois ciclos. No ciclo silvestre da febre amarela, os primatas não humanos (macacos) são os principais hospedeiros e amplificadores do vírus, e os vetores são mosquitos com hábitos estritamente silvestres, sendo os gêneros Haemagogus e Sabethes os mais importantes na América Latina. Nesse ciclo, o homem participa como um hospedeiro acidental ao adentrar áreas de mata. No ciclo urbano, o homem é o único hospedeiro com importância epidemiológica e a transmissão ocorre a partir de vetores urbanos (Aedes aegypti) infectados.

Figura 1. Ciclos epidemiológicos da Febre Amarela

       A febre amarela urbana não é registrada no país desde 1942. Enquanto o Aedes aegypti encontrava-se erradicado, havia uma relativa segurança quanto à não possibilidade de reurbanização do vírus amarílico. Entretanto, a reinfestação de extensas áreas do nosso território por este vetor, já presente em quase todos os municípios do país, traz a possibilidade de reestabelecimento deste ciclo de transmissão do vírus.

        A forma silvestre é endêmica nas regiões tropicais da África e das Américas. Em geral, apresenta-se sob a forma de surtos com intervalos irregulares, sem ciclicidade definida. Na população humana, o aparecimento de casos é geralmente precedido de epizootias em primatas não humanos. No Brasil, a partir da eliminação da forma urbana em 1942, só há ocorrência de casos de febre amarela silvestre (FAS) e os focos endêmicos até 1999 estavam situados nos estados das regiões Norte, Centro-Oeste e área pré-amazônica do Maranhão, além de registros esporádicos na parte Oeste de Minas Gerais.

        Nos surtos ocorridos no período de 2000 a 2009, observou-se a expansão da circulação viral nos sentidos leste e sul do país, detectando-se sua presença em áreas silenciosas há várias décadas. Esse caráter dinâmico da epidemiologia da doença tem exigido avaliações periódicas das áreas de risco para melhor direcionar os recursos e aplicar as medidas de prevenção e controle. Em outubro de 2008, procedeu-se a uma nova delimitação, a qual levou em conta vários fatores: evidências da circulação viral, ecossistemas (bacias hidrográficas, vegetação), corredores ecológicos, trânsito de pessoas, tráfico de animais silvestres e critérios de ordem operacional e organização da rede de serviços de saúde que facilitassem procedimentos operacionais e logísticos nos municípios.

           Foram redefinidas, então, duas áreas no País: a) Área Com Recomendação de Vacina (ACRV) , correspondendo àquelas áreas onde se reconhece o risco de transmissão; b) Área Sem Recomendação de Vacina (ASRV), correspondendo às “áreas indenes”, sem evidência de circulação viral.


Área Com e Sem Recomendação de Vacina Febre Amarela ,Brasil, 2015 
Fonte: UVR/CGDT/DEVEP/SVS/MS

          Esta doença acomete com maior frequência o sexo masculino e a faixa etária acima dos 15 anos, em função da maior exposição profissional, relacionada à penetração em zonas silvestres da área endêmica de FAS. Outro grupo de risco são pessoas não vacinadas que residem próximas aos ambientes silvestres, onde circula o vírus, além de turistas e migrantes que adentram estes ambientes sem estar devidamente imunizados. A maior frequência da doença ocorre nos meses de dezembro a maio, período com maior índice pluviométrico, quando a densidade vetorial é elevada, coincidindo com a época de maior atividade agrícola.

        Atualmente, a reemergência do vírus no Centro-Oeste brasileiro volta a causar preocupação. No período de monitoramento 2014/2015 (julho/2014 a junho/2015), registrou-se alteração no padrão de ocorrência de casos humanos e epizootias em primatas não humanos (PNH) durante o período sazonal da doença (dezembro a maio), com maior incidência de casos humanos em viajantes que realizavam atividades de turismo e lazer. A maior parte dos casos confirmados ocorreu em regiões turísticas de Goiás e Mato Grosso do Sul, áreas que mantêm intenso fluxo de pessoas, sobretudo durante o verão (período sazonal da doença). Para maiores informações acerca da situação epidemiológica atual da FA no Brasil, acesse o link “Situação Epidemiológica/Dados”.



Consideram-se como potenciais fatores de risco para reurbanização da febre amarela no Brasil:

Expansão territorial da infestação do Aedes aegypti, já detectado em todas as Unidades Federadas;
Áreas infestadas por Aedes aegypti e Aedes albopictus superpostas a áreas de circulação do vírus amarílico;
Áreas urbanas infestadas por Aedes aegypti próximas de áreas de risco para febre amarela silvestre;
Intenso processo migratório rural-urbano, levando à possibilidade de importação do vírus amarílico dos ambientes silvestres para os urbanos;
Áreas de circulação do vírus amarílico com baixas coberturas vacinais.


VACINAÇÃO
Antes de viajar, confira o cartão de vacinação contra a febre amarela

        Considerada uma doença sazonal, com maior incidência entre dezembro e maio, a medida mais importante para prevenção e controle da febre amarela é a vacinação. Por este motivo, o Ministério da Saúde alerta que, toda a população que reside ou que se desloque para regiões silvestres, rurais ou de mata de áreas com recomendação de vacina (ACRV), deve se imunizar. Com eficácia acima de 95%, o imunobiológico é reconhecidamente seguro e deve ser tomado no mínimo 10 dias antes da exposição a situações de risco, já que os anticorpos protetores aparecem entre o sétimo e décimo dia após a aplicação. A vacina contra a febre amarela está disponível, gratuitamente, nos postos de saúde, em todos os municípios do Brasil.

       A Organização Mundial da Saúde considera que apenas uma dose da vacina já é suficiente para a proteção por toda a vida. No entanto, como pode haver queda na imunidade com o tempo de vacinação, o Ministério da Saúde definiu a manutenção de duas doses da vacina Febre Amarela no Calendário Nacional de Vacinação, conforme quadro abaixo:


      Além da vacinação, as pessoas que planejam turismo rural, pescaria, visitação de reservas naturais, parques ecológicos, cachoeiras, rios, florestas, parques urbanos, bem como aqueles que praticam atividades laborais relacionadas ao extrativismo, à fauna e à flora em ambientes rurais e silvestres, devem adotar outras medidas de prevenção, tais como: utilizar roupas que proteja todo o corpo (sapato fechado, camisa de manga longa e calça comprida), usar repelentes e evitar ou reduzir a exposição no horário de maior risco (9h às 16h).

         Apesar da alta eficácia do imunobiológico, o Ministério da Saúde alerta que nos casos de pacientes com imunodeficiência, a administração desta vacina deve ser condicionada a avaliação médica individual de risco-benefício e não deve ser realizada em caso de imunodepressão grave.

           Indivíduos com história de reação anafilática relacionada a substâncias presentes na vacina (ovo de galinha e seus derivados, gelatina e outros produtos que contêm proteína animal bovina), assim como pacientes com história pregressa de doenças do timo (miastenia gravis, timoma, casos de ausência de timo ou remoção cirúrgica), também devem buscar orientação de um profissional de saúde.


Contraindicações

➔ Crianças com menos de 6 meses de idade

➔ Gestantes

➔ Pacientes com imunossupressão de qualquer natureza, como:

Pacientes infectados pelo HIV com imunossupressão grave, com a contagem de células CD4 <200 células/mm3 ou menor de 15% do total de linfócitos, para crianças com menos de 6 anos de idade.
Pacientes em tratamento com drogas imunossupressoras (corticosteroides, quimioterapia, radioterapia, imunomoduladores).
Pacientes submetidos a transplante de órgãos.
Pacientes com imunodeficiência primária.
Pacientes com neoplasia.


A doença

        A febre amarela é uma doença grave, com dois ciclos epidemiológicos distintos de transmissão: silvestre e urbano, que acomete tanto homens quanto macacos, e que é transmitida pela picada de mosquitos silvestres (febre amarela silvestre) ou do Aedes aegypti (febre amarela urbana). No Brasil, desde 1942, não há registro da febre amarela urbana, mas há surtos e casos esporádicos de febre amarela silvestre, como os recém registrados em SP, que têm sido acompanhados pelo Ministério da Saúde.





Situação Epidemiológica no Brasil

        A série histórica do número de casos humanos confirmados de febre amarela silvestre no Brasil apresenta aspecto irregular, com tendência estacionária, marcada por períodos endêmicos, caracterizados por casos isolados em indivíduos não vacinados, geralmente na região amazônica, intercalados por períodos epizoóticos e/ou epidêmicos, quando o vírus afeta principalmente populações de áreas com baixas coberturas vacinais, geralmente nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do país, como ocorreu no último período epidêmico registrado entre 2007 e 2009 

Figura.1
Série histórica do número de casos humanos confirmados de febre amarela silvestre e a letalidade no Brasil, 1980 a 2016.

      Entre julho/2014 e dezembro/2016, período de reemergência do vírus da febre amarela na região extra-amazônica, foi confirmado um total de 15 casos humanos, com locais prováveis de infecção (LPI) em: Goiás [9], Pará [2], Mato Grosso do Sul [1], São Paulo [2], Amazonas [1]. No mesmo período, 49 epizootias de primatas não humanos (PNH) confirmadas para febre amarela foram registradas em: São Paulo [16], Goiás [12], Distrito Federal [8], Tocantins [7], Minas Gerais [5] e Pará [1] (Tabela 1).

        Tabela 1. Casos humanos e epizootias de primatas não humanos (PNH) notificados e confirmados para Febre Amarela de acordo com o local provável de infecção. Brasil, julho/2014 – dezembro/2016.



          Destaca-se que a ocorrência de casos humanos foi compatível com o período sazonal da doença (Figura 2). Entretanto, a ocorrência de epizootias de PNH em períodos considerados de baixa ocorrência indica que as condições para a transmissão do vírus da febre amarela estão favoráveis, ressaltando a necessidade de ações e esforços adicionais de vigilância, prevenção e controle.

Figura.2
Distribuição dos casos humanos e epizootias de primatas não humanos (PNH) confirmados para Febre Amarela, por semana epidemiológica de início de sintomas ou ocorrência, Brasil, julho/2014 – dezembro/2016.

        A maior parte dos eventos foi inicialmente registrada na região Centro-Oeste, onde o vírus reemergiu a partir de julho de 2014. Posteriormente, foi observada a dispersão da transmissão nos sentidos sul e sudeste do país, quando afetou o estado de Minas Gerais, com registro de cinco epizootias de PNH confirmadas até o momento.

       A região mais recentemente afetada por focos de febre amarela foi a região Sudeste do país (Figura 3). Em março de 2016, um óbito foi confirmado no município de Bady Bassitt, em São Paulo. A partir de então, o número de epizootias de PNH notificadas no estado aumentou, sendo que até o momento (SE-52/2016) 16 foram confirmadas para Febre Amarela. Os municípios de SP com epizootias confirmadas são: São José do Rio Preto [1], Ibirá [1], Potirendaba [1], Pindorama [2], Adolfo [1], Catanduva [2], Jaboticabal [2], Monte Alto [1], Cajobi [1], Severínia [2] e Catiguá [2]. O último evento confirmado foi um óbito humano em Ribeirão Preto (dezembro/2016). A intensa circulação viral detectada na região indica a dispersão do vírus e a manutenção da transmissão ativa já no início do período sazonal (Figura 4).

Figura 3. Distribuição geográfica dos casos humanos e epizootias em primatas não humanos (PNH) confirmados para Febre Amarela, por município do local provável de infecção (LPI). Brasil, julho/2014 – dezembro/2016.

Figura 4. Distribuição geográfica do caso humano e epizootias em primatas não humanos (PNH) confirmados para Febre Amarela, por município do local provável de infecção (LPI). São Paulo, 2016.

Áreas com evidência de circulação viral e a intensificação da vigilância no Brasil

         Considerando a aproximação do período sazonal da doença no verão entre 2016 e 2017 e a reemergência do vírus na região extra-amazônica a partir de 2014, todas as unidades federadas devem ampliar a vigilância por meio da notificação de todo evento suspeito (Casos humanos e epizootias de PNH) em até 24 horas, acompanhada da investigação oportuna (em até 48 hora); visando a detecção precoce e a resposta coordenada dos serviços de saúde publica.

        Para efeito de intensificação da vigilância, controle e imunização, os municípios com evidência de circulação do vírus (caso humano/epizootia confirmada) são classificados como “área afetada”, e os municípios limítrofes são classificados como “área ampliada” (Figura 5). Para essas duas áreas, são recomendadas as seguintes medidas de vigilância e controle a partir da suspeita:

Intensificar a vigilância de casos humanos e epizootias em PNH, notificando e investigando os eventos suspeitos oportunamente;
Realizar busca ativa de indivíduos sintomáticos nas áreas de LPI e imediações;
Orientar o sistema de saúde regional e alertar para estratégias alternativas para detecção de casos por meio de estratégias que incluam:
Vigilância de Síndromes febris agudas com icterícia e/ou hemorragia;
Núcleos de Vigilância epidemiológica hospitalar, e;
Investigação de óbitos humanos sem causa conhecida
Realizar busca ativa de PNH doentes ou mortos nas áreas de LPI e imediações;
Realizar investigação e a obtenção de amostras para o diagnostico etiológico;
Realizar investigação entomológica, quando indicado;
(Vide páginas X e X1, disponível aqui)
Nos focos de regiões da Área Com Recomendação de Vacina (ACRV):
Realizar vacinação de bloqueio, seletiva: (i) vacinar pessoas ainda não imunizadas ou (ii) que foram vacinadas apenas uma vez na vida e há mais de 10 anos.
Nos focos de regiões de Área Sem Recomendação de Vacina (ASRV):
A vacinação de bloqueio deve ser analisada caso a caso e decidida em conjunto por todas as esferas de gestão do SUS (SMS, SES, SVS/MS), que levará em conta as evidências que demonstrem a transmissão ativa; o cenário epidemiológico e a avaliação de risco do evento.
Ampliar o controle vetorial urbano (Aedes aegypti), como estratégia adicional para reduzir o risco da transmissão urbana.

Figura 5. Distribuição geográfica das áreas Afetadas e Ampliadas para efeito de localização dos focos de transmissão da febre Amarela e intensificação das ações de vigilância, prevenção e controle no Brasil, de julho de 2014 a dezembro de 2016.


Recomendações para a vigilância epidemiológica

      Entre os eventos recentes, destaca-se a ocorrência da FA em regiões turísticas de Goiás e Mato Grosso do Sul e em áreas do Pará, Tocantins, Distrito Federal, Minas Gerais e São Paulo (Figura 4). A proximidade com áreas urbanizadas e a elevada densidade populacional (residente e transiente/viajante) nesses locais colocam em alerta os sistemas de vigilância, e suscitam a intensificação das ações de vigilância em toda a Área Com Recomendação de Vacina (ACRV), sobretudo nas regiões com evidência recente de circulação viral, além da vacinação preventiva de viajantes com destino aos locais de foco além dos indivíduos não imunizados moradores da ACRV.
Nesse contexto, recomenda-se:

Alertar a rede de serviços do SUS para ampliar e intensificar a vigilância de casos e epizootias suspeitos;
Notificar oportunamente os eventos suspeitos ao MS, pelo meio mais rápido: gt-arbo@saude.gov.br ou notifica@saude.gov.br e/ou telefone (61) 3213-8181;
Realizar busca ativa de indivíduos sintomáticos no local provável de infecção (LPI) e colher amostras para diagnóstico laboratorial;
Realizar busca de evidências de PNH e epizootias no LPI e outras localidades;
Realizar investigação entomológica como estratégia de atribuição de causa por vínculo epidemiológico nos eventos suspeitos sem amostras disponíveis;
Alertar a população (residentes e viajantes) sobre o risco nas áreas com transmissão;
Ampliar a oferta da vacina e as coberturas vacinais nos municípios da ACRV, a fim de prevenir a ocorrência de casos humanos e surtos;
Orientar viajantes com destino à ACRV sobre a importância da vacinação preventiva (pelo menos 10 dias antes da viagem para primovacinados), sobretudo àqueles que pretendem realizar atividades em áreas silvestres, rurais ou de mata;
Ampliar o controle vetorial urbano (Aedes aegypti), como estratégia adicional para reduzir o risco da transmissão urbana, principalmente nos municípios afetados.


A HISTÓRIA DA FEBRE AMARELA NO BRASIL



         Quando Oswaldo Cruz assumiu a direção do Departamento Nacional de Saúde Pública, o Brasil era um país doente. Uma das regiões que mais sofria era o Rio de Janeiro. No final do século XIX, dizia-se que essa cidade poderia vir a ser o maior empório da América do Sul se não fosse uma fábrica de moléstias.

            Duas doenças, em especial, tiravam o sono das autoridades e a vida da população: a febre amarela e a varíola.

        Quando falamos de epidemias na história do Brasil, a primeira a ser lembrada é a febre amarela. Transmitida pela picada do mosquito Aedes aegypti, chegou ao Brasil no século XVII em navios que vinham da África. Os primeiros casos datam de 1685, no Recife, e de 1692, na cidade de Salvador.

       Durante o século XVIII, não foram relatados casos dessa doença no Brasil. Ela retornou apenas entre 1849 e 1850, na forma de uma grande epidemia, que atingiu quase todo o país. Uma das cidades mais atacadas foi o Rio de Janeiro.
Esse surto epidêmico obrigou o Império a tomar providências que podem ser consideradas de saúde pública. O governo, por meio de um decreto, tentou limpar as cidades purificando o ar. Mas, mesmo assim, a febre amarela continuou a atacar. Não se imaginava que a causa da doença era um mosquito. Depois de 1850, ela se tornou endêmica no Rio de Janeiro.

      O número de vítimas aumentou assustadoramente. Entre 1880 e 1889, foram registrados 9.376 casos.

         A solução para a febre amarela surgiu apenas no final do século XIX. Até essa época, as teorias sobre a doença eram inúmeras. No Brasil, acreditava-se que o clima, o solo e os ares poderiam ser propícios ao seu surgimento; por isso a idéia de limpar o ar. Foi em Cuba que um cientista descobriu que a febre amarela era transmitida pelo mosquito Aedes aegypti.

          Oswaldo Cruz já tinha conhecimento do trabalho desenvolvido em Cuba e, quando iniciou sua luta para acabar com a febre amarela na cidade do Rio de Janeiro, recebeu amplo apoio do presidente Rodrigues Alves, que havia perdido um dos filhos por causa dessa doença.

       Esse apoio político foi muito importante para que a ação do sanitarista tivesse resultados, pois, nos meios científicos, muitos médicos não acreditavam que um mosquito era o transmissor da febre amarela.


       Para combater a doença e o mosquito, Oswaldo Cruz dividiu a cidade em distritos e organizou as chamadas “brigadas mata–mosquitos”.
As “brigadas” tinham o poder de invadir e isolar qualquer residência suspeita de abrigar focos do mosquito.

         As medidas de profilaxia de Oswaldo Cruz tiveram características de uma campanha militar. Os doentes eram isolados, e a cidade ficou sob a constante vigilância das autoridades policiais e sanitárias.


           A imposição de normas de higiene e a vigilância sobre a cidade e os hábitos da população caracterizam a prática campanhista autoritária. Na solução do problema da febre amarela, Oswaldo Cruz teve sucesso. Depois, precisou enfrentar a varíola, uma das doenças mais antigas de que se tem notícia. Causada por um vírus, o Orthopoxvirus variolae, ela tirou muitas vidas ao longo da história.

         Sua presença marcou importantes períodos, como a Idade Média, época em que recebeu inúmeras denominações, como “pequena pústula” e até mesmo o nome usado até hoje, “varíola”.

      Pústulas, manchas, cicatrizes: essas eram as principais marcas da varíola. Se a pessoa não morresse em virtude das altas febres, dores e fatiga, poderia ficar cega e com profundas cicatrizes pelo corpo, especialmente no rosto.


      Comum na Europa, a varíola chegou ao Brasil junto com os colonizadores e os navios que vinham da África. As primeiras referências da doença datam de 1563, por ocasião de uma epidemia que ocorreu na cidade de Salvador e seus arredores.

       Por causa das feridas em forma de bolhas que cobriam o rosto dos doentes, a varíola ficou conhecida popularmente como “mal das bexigas”; e seus doentes, como “bexiguentos”.

      Assim como na Europa, a varíola fez muitas vítimas no Brasil. Durante o Período Colonial, a doença periodicamente atacava vilas e alastrava-se pelas fazendas. Contando apenas com curandeiros e pouquíssimos cirurgiões-barbeiros, o que restava à população era rezar e isolar os doentes.

       Foi apenas no século XVIII que se vislumbrou o que seria a solução para impedir o avanço da varíola. As pistas foram dadas pelos próprios doentes — as pessoas que conseguiam sobreviver ficavam imunes à moléstia, ou seja, não a contraíam novamente.

           Imunização. Essa era a chave que a varíola oferecia em meio aos seus flagelos para se evitarem tantas mortes. E quem percebeu isso não foi um cientista ou médico da época (séc. XVIII), mas uma dama inglesa que havia sobrevivido à terrível doença: lady Mary Montagu. Esposa do embaixador inglês no Oriente, ela observou como os povos orientais faziam para evitar a varíola. Era o começo da primeira vitória do homem sobre uma epidemia.


        O que lady Mary percebeu e depois levou para a Europa foi o método de inoculação, que consistia em pegar um pouco de material de dentro das feridas dos enfermos que estavam em convalescença e inseri-lo, através de um pequeno corte, em pessoas sadias, especialmente crianças. Assim, o indivíduo acabava tendo uma forma “branda” de varíola e não ficava mais doente.
         A inoculação também ficou conhecida como “variolização” e se tornou moda entre as classes mais abastadas. Tanto reis como burgueses faziam seus filhos serem inoculados para que sobrevivessem a futuras epidemias. Esse método também chegou ao Brasil, de dois modos bem distintos: por intermédio de médicos e cirurgiões-barbeiros e pelos curandeiros africanos. Os primeiros queriam popularizar a prática para tentar diminuir o número de mortes em caso de epidemias, mas não conseguiram. Assim, ao ver um estilete, a maioria dos brasileiros fugia por medo.


         Já a variolização feita pelos africanos tinha um caráter ritualístico. Para estes, o mal devia ser combatido com o mal. Ao inocular as pessoas, os curandeiros buscavam o poder do orixá das epidemias, Obaluaiê.



A REFORMA DO CÓDIGO SANITÁRIO E O CURSO DE EDUCAÇÃO SANITÁRIA

         De 1922 a 1927 foi Paula Souza encarregado da Direção Geral do Serviço de Saúde Pública do Estado. Foi quando estudou e promoveu a reforma do Código Sanitário, a qual se realizou pelo Decreto 3876 de 11 de julho de 1925, aprovado e submetido a modificações pela Lei 2121 de 30 de dezembro desse mesmo ano8. Com ela abriram-se novos caminhos para os serviços de saúde pública do Estado de São Paulo, cujas implicações técnico-administrativas, por sua complexidadade, não se pretende aqui discutir. Limitar-nos-emos a registrar apenas duas das inovações propostas pela referida reforma: a primeira foi a criação da "Inspetoria de Educação Sanitária e de Centros de Saúde" e, a segunda, a inclusão do "Curso de Educação Sanitária" no então Instituto de Higiene. O Curso dirigia-se a professores primários, regentes de classes, de acordo com o artigo 460 da Lei 2121. Seu objetivo era ministrar conhecimentos teóricos e práticos de higiene, a esses professores, para que estes os introduzissem, a partir de uma visão essencialmente preventiva, em Centros de Saúde e escolas.

       Em 1925, durante o afastamento temporário de Paula Souza como Diretor de Serviço, o curso para alunos do sexto ano da Faculdade de Medicina foi prelecionado por Samuel Barnsley Pessoa, assistente interino(27). Além desse, três outros cursos foram também ministrados no Instituto de Higiene. O primeiro foi o curso para Técnicos Especialistas em Análises de Água, regido pelo substituto da Cadeira de Higiene, oferecido, como especialização, às alunas já treinadas em "Técnica Bacteriológica" pelo Instituto de Higiene. As técnicas que o concluíram foram aproveitadas, em seguida, pelo Laboratório de Análises do Estado. O segundo foi o curso de Técnicas de Laboratório de Saúde Pública, compreendendo: Parasitologia a cargo de Samuel Barnsley Pessoa; Bacteriologia Geral a cargo de Alberto Santiago; Bacteriologia Aplicada à Higiene a cargo de Francisco Borges Vieira; Micologia a cargo de José Maria Gomes; Noções de Química e Prática de Análises Químicas Aplicadas aos Problemas Sanitários, Noções de Estatística Vital e Feitura de Gráficos a cargo de Benjamim Alves Ribeiro. Finalmente, o Curso para Educadores de Higiene, com duração de 12 meses para a parte teórico-prática, exigindo mais seis meses de exercícios de natureza prática.








PARA SABER MAIS BAIXE AS CARTILHAS ABAIXO.


1 - GUIA EPIDEMIOLÓGICO-ATUAL-2016
2 - GUIA EPIDEMIOLÓGICO - 2014
3 - CADERNOS AB - FEBRE AMARELA ZOONOZES
4 - CADERNOS AB - FEBRE AMARELA
5 - PLANO DE CONTINGÊNCIA
6 - GUIA DE BOLSO
7 - GUIA DE VIGILÂNCIA AMBIENTAL
8 - EPIDEMIAS E ENDEMIAS
9 - HISTÓRIA DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE NO BRASIL



VIDEO SOBRE O SURTO
DA FEBRE AMARELA
EM 2016-2017












Fonte: SVS - MINISTÉRIO DA SAÚDE















Redação e imagens: Divisão de Comunicação deste blog.









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