sábado, 19 de outubro de 2013

A SÍFILIS CONGÊNITA EM FOCO

O Ministério da Saúde lança campanha de
incentivo ao diagnóstico da doença às gestantes.


        A ação marca o Dia Nacional da Sífilis, neste sábado (19). A campanha tem como objetivo sensibilizar os profissionais da saúde para que recomendem a seus pacientes a realização do diagnóstico durante o pré-natal. Os testes rápidos e tradicional para detecção da doença são oferecidos gratuitamente nos postos de saúde e disponíveis em todo o país.

     O espaço dedicado à campanha www.aids.gov.br/sifilis reúne informações para gestores locais, profissionais de saúde e gestantes sobre o estímulo ao teste de sífilis durante a gestação. São publicações, vídeos, cartazes, banners, campanhas que trabalham a prevenção, o teste e o tratamento para a sífilis congênita na atenção básica de saúde. O Ministério da Saúde também divulgará a campanha pelas redes sociais. Durante todo o mês de outubro, em todo o país, ações tratarão do tema na atenção básica de saúde.

       Ao mesmo tempo em que conscientiza as mães para a realização do diagnóstico no pré-natal, a campanha reforça o papel fundamental dos profissionais de saúde para o sucesso desta iniciativa. “A sífilis durante a gestação pode trazer consequências como má-formação do feto e aborto. O teste é rápido e simples de ser feito”, observa o diretor de Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, do Ministério da Saúde, Fábio Mesquita.

      O dirigente explica que o tratamento durante a gestação também pode ser realizado de maneira simples, evitando complicações para a criança após o nascimento. “A eliminação da sífilis congênita no país, até 2015, é uma dos desafios na área da saúde no Brasil”, afirma. Segundo ele, o maior problema da sífilis é que, na maioria das vezes, as mulheres não sentem nada e só vão descobrir a doença após o exame.

        Teste rápido - Desde 2011, quando o Ministério da Saúde começou a ofertar os testes rápidos, foram distribuídos um total de 2,9 milhões. O número de exames distribuídos passou de 31,5 mil (em 2011) para 1,7 milhões até setembro deste ano. Com essa nova tecnologia, a gestante tem a oportunidade de saber se já teve contato com o vírus causador da doença, em apenas 30 minutos, durante a consulta de pré-natal.

         Na Rede Cegonha, 5.023 municípios aderiram ao componente pré-natal, que prevê a ampliação do diagnóstico com a testagem rápida para a triagem da sífilis da gestante e de suas parcerias sexuais. Esses municípios receberam cerca de 1,2 milhão de testes rápidos para sífilis desde 2012. Na atenção básica, desde 2011, foram distribuídos mais 2,5 milhões, totalizando 3,7 milhões testes.

       Serviço – Os testes disponíveis são o laboratorial – que demora alguns dias para sair o resultado – e o rápido, que indica a possibilidade de sífilis. Em caso positivo, deve ser refeito por meio de exame laboratorial. A gestante deve fazer o primeiro diagnóstico no primeiro trimestre da gravidez. O recomendado é refazer o teste no terceiro trimestre da gestação e repeti-lo antes do parto, já na maternidade. Quem não fez pré-natal, deve realizar o teste antes do parto.

        O Dia Nacional de Combate à Sífilis foi instituído pela Sociedade Brasileira de DST, em 2006, e é lembrado todo terceiro sábado do mês de outubro. O objetivo da data é aumentar o debate sobre o assunto, mobilizando governo e a sociedade para o combate e prevenção à doença. Segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS), aproximadamente 12 milhões de novos casos ocorrem a cada ano no mundo.


O que é Sífilis Congênita

       A sífilis congênita é o contágio do Treponema pallidum por via transplacentária, quando a gestante infectada, não tratada, o transmite para o bebê. Transmissão essa que poderá ocorrer em qualquer fase da gestação, provocando aborto espontâneo, morte fetal, prematuridade e recém-nascidos com sintomas da doença. Sendo que a metade de todos os bebês infectados morre pouco antes ou pouco depois do parto. 


     Os bebês que sobrevivem apresentam os sintomas da etapa inicial, como irritabilidade, incapacidade de progredir e febre. 

   O diagnóstico precoce e o tratamento da gestante são eficazes na prevenção da doença, sendo assim, é importante que o serviço de saúde disponibilize a toda gestante uma assistência pré-natal adequada. 

            

   O diagnóstico precoce no pré-natal consiste na realização do teste VDRL e no tratamento imediato da gestante e seu parceiro, quando diagnosticada a doença, a fim de evitar que a gestante adquira uma nova infecção. O tratamento é realizado com penicilina, 30 dias antes do parto. 

       


A sífilis congênita pode ser classificada em: 
• Recente: quando os sintomas aparecem nos primeiros dois anos de vida, sendo mais manifestados do primeiro ao terceiro mês. 
• Tardia: quando os sintomas aparecem a partir do segundo ano, ocasionando deformações de dentes, surdez, alterações oculares, dificuldades de aprendizagem, retardo mental. 

Na sífilis congênita acontece grande aumento da placenta, cerca de 1/6 a 1/12 a mais do que o normal em relação ao peso com vilosite e fusite.

Figura 1: Sífilis congênita
Sífilis Congênita Precoce
É aquela em que as manifestações clínicas se apresentam logo após o nascimento ou pelo menos durante os primeiros 2 anos. Na maioria dos casos, estão presentes já nos primeiros meses de vida. Assume diversos graus de gravidade, sendo sua forma mais grave a sepse maciça com anemia intensa, icterícia e hemorragia. Apresenta lesões cutâneo-mucosas, como placas mucosas, lesões palmo-plantares (Figura 1), fissuras radiadas periorificiais e condilomas planos anogenitais; lesões ósseas, manifestas por periostite e osteocondrite, lesões do sistema nervoso central e lesões do aparelho respiratório, hepatoesplenomegalia, rinites sanguinolentas, pseudoparalisia de Parrot (paralisia dos membros), pancreatite e nefrite.
                      Figura 2: Sífilis congênita: fronte olímpica.

                    Figura 3: Sífilis congênita: dentes de Hutchinson.
                    Figura 4: Sífilis congênita: nariz em sela.

Sífilis Congênita Tardia

É a denominação reservada para a sífilis que se declara após o segundo ano de vida. Corresponde, em linhas gerais, à sífilis terciária do adulto, por se caracterizar por lesões gomosas ou de esclerose delimitada a um órgão ou a pequeno número de órgãos: fronte olímpica (Figura 2), mandíbula curva, arco palatino elevado, tríade de Hutchinson (dentes de Hutchinson (Figura 3) + ceratite intersticial + lesão do VIII par de nervo craniano), nariz em sela (Figura 4) e tíbia em lâmina de sabre.

ETIOLOGIA DA SÍFILIS
Treponema pallidum, um espiroqueta de alta patogenicidade.
 
RESERVATÓRIO
O homem.
 
MODO DE TRANSMISSÃO DA SÍFILIS
Da sífilis adquirida é sexual, na área genital, em quase todos os casos. O contágio extragenital é raro. Na sífilis congênita, há infecção fetal por via hematogênica, em geral a partir do 4º mês de gravidez. A transmissão não sexual da sífilis é excepcional, havendo poucos casos por transfusões de sangue e por inoculação acidental.
 
PERÍODO DE INCUBAÇÃO
Geralmente, de 1 a 3 semanas.
 
DIAGNÓSTICO DA SÍFILIS
Clínico, epidemiológico e laboratorial. A identificação do Treponema pallidum confirma o diagnóstico. A microscopia de campo escuro é a maneira mais rápida e eficaz para a observação do treponema, que se apresenta móvel. O diagnóstico sorológico baseia-se fundamentalmente em reações não treponêmicas ou cardiolipínicas e reações treponêmicas. A prova de escolha na rotina é a reação de VDRL, que é uma microaglutinação que utiliza a cardiolipina. O resultado é dado em diluições, e esse é o método rotineiro de acompanhamento da resposta terapêutica, pois nota-se uma redução progressiva dos títulos. Sua desvantagem é a baixa especificidade, havendo reações falso-positivas em numerosas doenças. Rotineiramente, é utilizado o FTA-abs, que tem alta sensibilidade e especificidade, sendo o primeiro a positivar na infecção. O comprometimento do sistema nervoso é comprovado pelo exame do líquor, podendo ser encontradas pleocitose, hiperproteinorraquia e a positividade das reações sorológicas. O RX de ossos longos é muito útil como apoio ao diagnóstico da sífilis congênita.
 
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Cancro Primário
Cancro mole, herpes genital, linfogranuloma venéreo e donovanose.
 
Lesões Cutâneas na Sífilis Secundária
Sarampo, rubéola, ptiríase rósea de Gibert, eritema polimorfo, hanseníase virchowiana e colagenoses.
 
Sífilis Tardia
Se diferencia de acordo com as manifestações de cada indivíduo.
 
Sífilis Congênita
Outras infecções congênitas (toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus e herpes).
 
TRATAMENTO DA SÍFILIS
Sífilis Adquirida
Sífilis primária: penicilina G benzatina, 2.400.000 UI, IM, dose única (1.200.000, IM, em cada glúteo); sífilis secundária: penicilina G benzatina, 2.400.000 UI, IM, 1 vez por semana, 2 semanas (dose total 4.800.000 UI); sífilis terciária: penicilina G benzatina, 2.400.000 UI, IM, 1 vez por semana, 3 semanas (dose total 7.200.000 UI).
 

Sífilis Congênita no Período Neonatal
Para todos os casos, toda gestante terá VDRL à admissão hospitalar ou imediatamente após o parto; todo recém-nascido cuja mãe tenha sorologia positiva para sífilis deverá ter VDRL de sangue periférico; nos recém-nascidos de mães com sífilis não tratada ou inadequadamente tratada (terapia não penicilínica, ou penicilínica incompleta, ou tratamento penicilínico dentro dos 30 dias anteriores ao parto), independentemente do resultado do VDRL do recém-nascido, realizar RX de ossos longos, punção lombar (se for impossível, tratar o caso como neurosífilis) e outros exames quando clinicamente indicados. Se houver alterações clínicas e/ou sorológicas e/ou radiológicas, o tratamento deverá ser feito com penicilina cristalina na dose de 100.000 U/kg/dia, IV, em 2 ou 3 vezes, dependendo da idade, por 7 a 10 dias; ou penicilina G procaína, 50.000 U/kg, IM, por 10 dias; se houver alteração liquórica, prolongar o tratamento por 14 dias com penicilina G cristalina na dose de 150.000 U/kg/dia, IV, em 2 ou 3 vezes, dependendo da idade. Se não houver alterações clínicas, radiológicas, liquóricas e a sorologia for negativa no recém-nascido, dever-se-á proceder ao tratamento com penicilina benzatina, IM, na dose única de 50.000 U/kg. Acompanhamento clínico e com VDRL (1 e 3 meses).
      Nos recém-nascidos de mães adequadamente tratadas: VDRL em sangue periférico do RN; se for reagente ou na presença de alterações clínicas, realizar RX de ossos longos e punção lombar. Se houver alterações clínicas e/ou radiológicas, tratar com penicilina cristalina, na dose de 100.000 U/kg/dia, IV, em 2 ou 3 vezes, dependendo da idade, por 7 a 10 dias; ou penicilina G procaína, 50.000 U/kg, IM, por 10 dias. Se a sorologia (VDRL) do recém-nascido for 4 vezes maior (ou seja 2 diluições) que a da mãe, tratar com penicilina cristalina na dose de 100.000 U/kg/dia, IV, em 2 ou 3 vezes, dependendo da idade, por 7 a 10 dias, ou penicilina G procaína, 50.000 U/kg IM, por 10 dias. Se houver alteração liquórica, prolongar o tratamento por 14 dias com penicilina G cristalina, na dose de 150.000 U/kg/dia, IV, em 2 ou 3 vezes, dependendo da idade. Se não houver alterações clínicas, radiológicas, liquóricas e a sorologia for negativa no recém-nascido, acompanhar o paciente, mas na impossibilidade, tratar com penicilina benzatina, IM, na dose única de 50.000 U/kg.
     Observações: no caso de interrupção por mais de 1 dia de tratamento, o mesmo deverá ser reiniciado. Em todas as crianças sintomáticas, deverá ser efetuado exame oftalmológico (fundo de olho). Seguimento: ambulatorial mensal; realizar VDRL com 1, 3, 6, 12, 18 e 24 meses, interrompendo quando negativar; diante das elevações de títulos sorológicos ou não negativação desses até os 18 meses, reinvestigar o paciente.
 
Sífilis Congênita após o Período Neonatal
Fazer o exame do LCR e iniciar o tratamento com penicilina G cristalina, 100.000 a 150.000 U/kg/dia, administrada a cada 4 a 6 horas, durante 10 a 14 dias.
 
Sífilis e Aids
A associação de sífilis e aids é relativamente freqüente. De acordo com o grupo social, essa associação pode ocorrer em 25% dos doentes. São poucas as documentações sobre este assunto. Na maioria dos doentes com sífilis e infecção pelo HIV, as lesões do secundarismo podem ser numerosas e extensas, com fácil sangramento e tempo de cicatrização maior, sugerindo um quadro que ocorria no passado, denominado de sífilis maligna precoce. Os títulos sorológicos pelo VDRL podem ser mais elevados nos doentes coinfectados pelo HIV, dependendo do grau de imunossupressão é aconselhável que estes pacientes façam sorologia do líquor.
 
CARACTERÍSTICAS EPIDEMIOLÓGICAS DA SÍFILIS
Doença universal, de transmissão sexual. A sífilis congênita constitui-se em doença de eliminação.
 
OBJETIVOS DA VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA
Detecção ativa e precoce dos casos de sífilis congênita para tratamento adequado das mães e crianças, para adoção das medidas de controle visando sua eliminação; interromper a cadeia de transmissão da sífilis adquirida (detecção e tratamentos precoces dos casos e dos parceiros).
 
NOTIFICAÇÃO
A sífilis congênita é doença de notificação compulsória e de investigação obrigatória. A sífilis adquirida deve ser notificada de acordo com as normas estaduais e/ou municipais. A Coordenação Nacional de DST e AIDS, do Ministério da Saúde, selecionou fontes de informações específicas em conjunto com estados e municípios para as DST, visando o aprimoramento da sua vigilância.
 
MEDIDAS DE CONTROLE DA SÍFILIS
a)   O Ministério da Saúde é signatário de acordo internacional que busca a “eliminação da sífilis congênita”. Para alcançar esse objetivo está em andamento a implantação de atividades especiais para eliminação, em aproximadamente 6.000 maternidades brasileiras. Deve-se observar a correta forma de tratamento dos pacientes; a plena integração de atividades com outros programas de saúde; o desenvolvimento de sistemas de vigilância locais ativos;
b)   Interrupção da cadeia de transmissão (diagnóstico e tratamento adequados);
c)   Aconselhamento (confidencial): orientações ao paciente com DST para que discrimine as possíveis situações de risco em suas práticas sexuais; desenvolva a percepção quanto à importância do seu tratamento e de seus parceiros sexuais e de comportamentos preventivos;
d)   Promoção do uso de preservativos;
e)   Aconselhamento aos parceiros;
f)     Educação em saúde, de modo geral.


    Observação: as associações entre diferentes DST são freqüentes, destacando-se, atualmente a relação entre a presença de DST e aumento do risco de infecção pelo HIV, principalmente na vigência de úlceras genitais. Desse modo, se o profissional estiver capacitado a realizar aconselhamento, pré e pós-teste para detecção de anticorpos anti-HIV, quando do diagnóstico de uma ou mais DST, deve ser oferecida essa opção ao paciente. Portanto, toda DST constitui-se em evento sentinela para busca de outra doença sexualmente transmissível e possibilidade de associação com o HIV. É necessário, ainda, registrar que o Ministério da Saúde vem implementando a “abordagem sindrômica” aos pacientes de DST, visando aumentar a sensibilidade no diagnóstico e tratamento dessas doenças, o que resultará em um maior impacto na redução dessas infecções

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Fonte: Nivaldo Coelho / Agência Saúde
           Patrícia Lopes / Brasil Escola

Fotos: Arq.Felixfilmes


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